sábado, 29 de janeiro de 2011

souto city

corria o ano de 2005, o já longínquo e relativamente desfocado ano de 2005, quando, talvez prevendo um verão espectacular de mais, pouco após o fim da época de exames, eu, o gigio, o pirocas e o marcos nos inscrevemos num programa de voluntariado. sim, é verdade, somos assim tão altruístas. basicamente, a troco de 14 euros, tínhamos de passar umas horinhas na capela de monserrate a olhar pa mata e avisar caso avistássemos fogo. quem é que, nesta troca, dava mais do que recebia? quem? digam lá. todas as manhãs, lá íamos nós, de toalha na mão, eu com a velhinha guitarra do meu primo a tiracolo, o pirocas com um djambé pequenito, o marcos de rádio na mão e o gigio com o bronzeador. claramente, qualquer traunsente que olhasse para nós, sentiria imediatamente um grande orgulho ao reconhecer em nós jovens trabalhadores esforçados, preocupados com o flagelo dos incêndios. anyway, uma vez lá em cima, era então tempo de estender as toalhas e estendermo-nos também. pelo menos enquanto o movimento de rotação da terra não levasse a sombra para longe de mais. e de vez em quando alguém dizia:

- vai ver se tá alguma coisa a arder pah.
- foda-se, eu fui o último, vai tu cabrão, nunca vais!
- olha que filha da puta, sou sempre eu que vou...
- po caralho pah.
- oh, que se foda então, também não deve tar nada a arder a esta hora.

todos os santos dias passava a "hotel yorba" e a "feel like john travolta" na radio. todos os dias também, ao meio-dia, ligavam-se os altifalantes com música religiosa, o que levava o pirocas a proferir uns bastante audíveis "cala-te ò filha da puta". eu dizia sempre que era lindo que um dia, enquanto ele estivesse para lá naquele recital, viesse uma procissão a subir o monte, a carregar a santinha, e a cantar avé marias... lol. dá-me ideia que sacrificavam-no logo ali em honra da santa.


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