quarta-feira, 21 de abril de 2010

nothing to lose

vou transcrever para aqui uma notícia que acabei de lêr:


um estudo publicado pelo eurobarómetro nesta quarta-feira em bruxelas revela que os portugueses são os que mais bebem bebidas alcoólicas diariamente liderando a média europeia.

os resultados do inquérito realizado a 27 mil europeus revela que 43% dos portugueses bebe diariamente álcool, colocando portugal no topo do consumo de bebidas alcoólicas.

no 2.º lugar está a itália com 25%, sendo que a média europeia se situa nos 14%.


pois é, liderança folgada do ranking. não sei se haverá alguém surpreendido com estes resultados. eu não estou. é óbvio que somos os mais bêbados. e se não somos os mais drogados, é só e apenas porque a droga é cara. quem no seu perfeito juízo consegue encarar a realidade portuguesa estando sóbrio? não fosse o álcool e havia suicídios a torto e a direito. eu olho à minha volta e não vejo nada que faça sentido. não encontro uma razão que seja para dar o benefício da dúvida a este país. e o problema é mesmo esse, porque bem lá no fundo, o ser humano não precisa de tanto assim para ser feliz. há países no mundo
onde as pessoas são felizes apesar dos problemas graves que inevitávelmente fazem parte das suas vidas. como o brasil ou a áfrica do sul. e são-no porque, por mais difícil que a vida acabe por ser, têm sempre algo a que se agarrar. alguma coisa que dê sentido à luta. que dê força para pôr um pé à frente do outro. seja uma pessoa, seja um lugar, seja a simples esperança em dias melhores.

aqui em portugal, não temos nada. absolutamente nada. não temos futuro, não temos vida, não fazemos sentido. olho para tantas e tantas vidas que acabam na mais frustrante rotina e não posso deixar de pensar em fugir desta terra amaldiçoada e evitar o mesmo fim. porque não nos enganemos, é só isso que espera quem cá ficar. eu chego ao fim de semana, e seja na casa das artes, seja no açougues, seja no galerias, seja lá onde for, ao olhar para as pessoas da geração dos meus primos, não consigo deixar de ter pena: já nos seus 30, a trabalhar na terrinha, à espera do fim de semana para ir pos copos e acabar na azenha. bares repletos de homens. obscenamente repletos de homens. todos condenados à mesma penitência: pagar e esperar a vez se quiserem sequer tocar numa mulher. triste realidade.

43% da população. ou seja, trocado por miúdos, 4.3 milhões de homens portugueses estão enterrados no álcool. normal. como é que nós íamos saír à noite aqui em portugal sem o álcool para atenuar a realidade? homens e mais homens. pequeninas gordas com a mania que são princesas numa selva brutal, e sempre, mas sempre o mesmo fim. fim nenhum. um nada. claro que somos uns bêbados. como podia ser diferente?

na áfrica do sul, por exemplo, eram uns meninos comparados comnosco. não bebiam nada. mas sabem porque? porque não precisam. é que ao contrário daqui, o que não há nas discotecas sul-africanas a partir de uma certa hora é homens;).

há uma razão para tudo. e a razão para sermos os maiores bêbados é precisamente o facto de na verdade, não termos muito mais a que nos agarrar. no fundo somos como o steven seagal, quando nos filmes lhe matam a família toda: nao temos nada a perder. e não ter nada a perder é uma situação confortável na hora da mudança, porque quem não tem nada a perder, sabe que nada mudará para pior.

e assim, no dia em que tiver a oportunidade de abandonar portugal de vez, fá-lo-ei sem pensar duas vezes, seja qual for o destino que me proponham. precisamente porque na verdade, não tenho nada a perder:).

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