o tuga na praia

de todos os bichos que há na praia, o portuga é o mais engraçado. o dia de praia começa cedo, tem de começar, montar a tenda gigante, o satélite para ver sporttv e o barbecue não são tarefas para serem feitas nas horas de maior calor. não, é pela fresquinha, até para garantir o melhor lugar da praia, se é que a areia não é toda a mesma. é um dia em família, este, o de praia. vai a mulher, vão os filhos, vão os putos, vão as noras, vai toda a gente. o farnel vem já feito de casa que é já trabalho grande que chegue assar frangos, febras e chouriças. é de casa que vem já feito o arroz de pato, as pataniscas, os rissóis e os croquetes. bem como o garrafão de vinho e a "geleira" cheia de latas e garrafas de super bock, cujas caricas vão acabar arrancadas à dentada e cuspidas pa areia. os livros não vieram, até porque em casa não os há, mas lugar para a leitura, esse está garantido com o record, o jogo, a bola, a telenovelas e a ana + atrevida. as bolas e as raquetes trazem-nas os putos, que vão acabar por levar no focinho por acertarem com as bolas nas pessoas. o rádio de bolso, veio, curiosamente, no bolso, não vá o benfica contratar mais um jogador da bola. as cadeiras e as mesas alguém as não esqueceu, e alguém também as carregou da carrinha de 9 lugares para a praia. o protector solar, na melhor das hipóteses só para os putos, que para além de ser caro, é de maricas. os gelados, o único motivo para sequer entrar no bar da praia. os putos querem calipos, mas não o permitem os pais pois fazem esses mal aos dentes, e são só gelo. há também quem queira magnum mas falta a coragem para escolher gelado tão inconveniente em termos de preço. choram os putos, berram os pais, mas o que desde o ínicio se sabia ir acontecer, acontece mesmo, mini milk e epás para todos. ouve a mulher as queixas do homem sobre a falta de sal no arroz de pato, e não liga. vão desaparecendo os rissóis e os croquetes, e voando os copos de plástico ao sabor do vento. as panças e as pentelheiras de fora. ou o pneu, consoante o sexo. querem mijar os putos, à agua os pais os levam. querem ir à agua os putos, não deixam os pais. o fumo da churrascada corre pela praia. o suor escorre pela pança do churrasqueiro tal como a chuva acaba por chegar ao chão por força da gravidade. são 4 e meia. o lanche está quase pronto. febras, frango, chouriça e super bock. a chouriça, a assar no assa-chouriças à conta da combustão de água ardente, atraí os olhares de todos quantos estão suficientemente perto. quadro bonito este, tal e qual o pôr do sol que há-de acontecer dentro de algumas horas. a broa alguém se esqueceu de a trazer. e alguém vai levar nas trombas por isso. mais especifícamente, a mulher de alguém. na sporttv estão a apresentar o novo jogador da bola do glórias. o novo messias. este ano é que vai ser, mais que uma boca o disse, e ninguém ousou discordar. já só há 4 grades de super bock. febras também não as há muitas. arrumar é a pior parte. por arrumar entenda-se levar de volta tudo aquilo que ainda é útil. excluímos assim o lixo. esse fica na praia, livre para voar com as gaivotas, ou em casos de extremo civismo, enterrado debaixo da areia. berram uns, berram outros. uns com pressa para jantar, outros, outras, com pressa para fazer o jantar antes de começar a novela. quem desmonta e carrega tudo de volta para os veículos não se sabe ao certo, mas é de bom tom supor que foram todos, cada um à sua maneira. mesmo mesmo ao lado, ou no outro canto da praia, quantas câmaras diferentes houvesse, quantas cópias do mesmo filme. fica por fim a praia deserta, ou muito perto disso. o sol começa a entrar pelo mar dentro, e ali, à luz dos últimos raios de sol do dia, a observar a dança dos copos e pratos de plâstico, os caranguejos, os golfinhos, os tubarões, as baleias, as pulgas, todos sem excepção suspiram de alívio.